Ainda não dei os parabéns à minha mãe. Ela não gosta de “dias da mãe” – argumenta sempre “Dia da mãe é todos os dias”. Quando era 8 de dezembro ainda gostava, agora não quer ouvir falar.
Mas mesmo assim insisto. Faço um telefonema de parabéns camuflado. É muito semelhante ao de ontem, eu também acredito que o dia das mães, e dos pais, e dos filhos, e de todos que amamos, é todos os dias. Hoje falei com todos os que amo. Faço-o normalmente. Há uma parte substantiva do amor que se traduz em companhia e cuidado.
A minha mãe é contra o “dia da mãe”. Diz que é todos os dias. Ela é que sabe.
Mesmo estando longe, como normalmente estou, de quem me deu as primeiras ferramentas para a vida, nunca me esqueço de como uma palavra simples melhora o tempo de quem já não vive na vertigem do trabalho. Uma palavra simples, uns minutos, são alimento e a alegria para quem antes viveu aquilo que vivo hoje.
Olá mãe! “este corpo velho atropela tudo filho, estou como os jovens do meu tempo, maldita velhice” Come menos, mantém-te magra, caminha; “está tanto frio, está tanto calor, estou tão cansada” Vá tem força é melhor estar vivo. “E os meninos” Os meninos estão com a mãe. Para lá caminho, o corpo é um sustento mas também é um carrego e uma prisão.
Olá mãe! Estás sempre comigo.
Os meus filhos estão com a mãe. Eu e ela já não nos amamos, pouco nos falamos, toleramo-nos mal. O tempo afastou-nos. São eles o único que nos une. Gosto que estejam com ela. Estão felizes.