Para quem não sabe onde quer chegar, todos os caminhos estão errados.
Quer isto dizer: quem não tem uma estratégia, por melhor que sejam as suas táticas, dificilmente ganha a guerra.
Reza a lenda, ou a história, não se sabe bem, que Caius Júlio César, imperador romano, terá desabafado nas suas memórias sobre o povo da Ibéria Ocidental: “estranho povo aquele, que não se governa nem se deixa governar”, deixando para sempre gravado na pedra aquela que é uma das principais características do povo português. Uma espécie de incapacidade genética que não o deixa fazer o que os outros dizem, nem saber escolher o seu próprio caminho.
Viriato ficou para a história como símbolo disto mesmo. Um guerreiro lusitano que se recusava a aceitar o domínio estrangeiro, mas que também nunca conseguiu governar o seu território. Talvez por isso, mesmo amado por muitos, acabou traído pelos seus mais próximos. Depois dele, a Lusitânia teria de esperar mais de mil anos para que um tal Afonso Henriques a fizesse independente.
É numa destas encruzilhadas em que hoje nos encontramos. Enquanto o governo de Passos Coelho tinha uma estratégia, o de Costa tem apenas táticas sem um objetivo definido.
[bctt tweet=”A estratégia de António Costa é apenas sobreviver. Se continuar o mais certo é acabar traído “]
Nem interessa discutir aqui se a estratégia era boa, eu pessoalmente até penso que não, porque emagrecendo o estado até ao osso deixou os cidadãos mais pobres e mais desprotegidos; mas era uma estratégia coerente e com um objetivo definido. Passos Coelho acreditava que Portugal seria num país mais competitivo seguindo as lógicas mais liberais do capitalismo. “Ir mais longe o que a própria troika”, era nisto que o ex-primeiro-ministro acreditava.
O Governo de António Costa abandonou esse caminho – como aliás tinha prometido – mas tarda em que se consiga perceber qual é o objetivo da sua governação. Entalado entre Bruxelas e a Esquerda radical, Costa mais não pode que socorrer-se de táticas. Embora nisto seja um mestre, o primeiro-ministro, para poder sobreviver, vai tomando decisões com o objetivo de agradar a todos – decisões essas que, do ponto de vista estratégico, podem vir a ser-lhe fatais.
Agindo assim, como aconteceu com seu antepassado Viriato, o primeiro-ministro contenta o povo, mas desagrada aos generais e quem assim age fica sempre exposto aos perigos da traição.