Era por baixo de nós que desta vez o sol subia no horizonte. Podíamos ser maiores que o tempo, ali, entre o céu e a terra.

Há um homem que escreve apenas começos. Pequenos textos para grandes romances. Cada história eflui de um ponto conciso, exato em todas as suas geografias narrativas, para se materializar mais à frente; numa novela, numa peça de teatro, numa fotografia, numa dor ou apenas em silêncio.
Era por baixo de nós que desta vez o sol subia no horizonte. Podíamos ser maiores que o tempo, ali, entre o céu e a terra.
Há coisas que estão destinadas ao seu momento certo e nunca chegam com atraso.
Só tu conseguias ser assim. Ansiando pelo fim das coisas, com aquela alegria iniciática de quem, colado ao ventre da tua mulher, sofria a dor física do nascimento dos seus filhos.
Sentiu o coração enrugar-se no tempo em que esperou o milagre. Quando toda a esperança o abandonou deu meia volta e, já de costas para a casa, sentiu o calor diminuído do sol quase posto no rosto.
A melhor definição de amor vinha formulada nessas páginas — escritas no ano em que nasci — mas só a consegui reconhecer muitos anos depois
“Sozinho no cais deserto a esta manhã de verão olho para o lado da barra, olho para o indefinido, olho e contenta-me ver”, pensava o Homem de Estanho, contemplando o longe e a distância naquela […]
Encosto a cabeça ao sono e peço-lhe que venha já. Ouve-se lá fora o latir metálico de uma máquina indistinta. Gemido longínquo como de uma fábrica antiga que guarda o rumor de um tempo que […]
Fiquei docemente a olhar o coração vermelho a pulsar na linha. Ainda estou. Não te respondi de imediato com todos os corações vermelhos de amor do mundo, como pedia a minha vontade, porque quero que […]
E se por algum acaso,
Vier a sentir saudade
Que seja por tudo o que não tive.
És tu que me ensinas que, por mais que ela tente, a loucura ficará sempre do lado de fora da vida. Fazendo boa companhia à solidão.
Quando a história se tornou conhecida vieram especialistas de todo o mundo tentar perceber o que acontecia, coisa que até hoje ninguém conseguiu.
Leio num texto antigo o amor de novo.
Trabalha como se vivesses para sempre. Ama como se fosses morrer hoje. SénecaAi que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa