Inventar palavras é um exercício difícil. As palavras são resumos eficazes dos sentimentos, das coisas, dos sentidos, enfim, do mundo. Inventar palavras é um privilégio da experiência e da sabedoria, mas pode ser também uma regalia da criatividade, um jogo literário, um passatempo infantil ou mesmo, apenas, fruto do acaso. Mas novas palavras são sempre uma sorte!Este texto, é sobre uma dessas palavras. Melhor! à volta de uma delas. Esta, vem acrescentar ao meu dicionário (e espero que o uso não se generalize) uma síntese para um sentimento. Eis em “dicionarês” a sua entrada.
Calengs | s. f. |forma fonética: K[é] lêngs | – “alguém querido e próximo que ama a vida acima de todas as coisas e com quem é possível definir continuadamente a liberdade”. O texto de hoje é o primeiro de sempre, em toda a história da humanidade e em todas as línguas, a usar esta palavra. É uma “estreia mundial”. Apadrinhada por Whitman, num palimpsesto “a contrariu senso”, sobre um dos melhores poemas já alguma vez feitos com todas as palavras que existiam antes desta. E é assim:
“Oh Calengs, my Calengs! esta viagem é feita de fogo e fúria,
em navios enfeitados de alegrias e tristezas já passadas,
O porto é perto, ouço as aves, e todo o povo que exulta
Seguindo com olhar firme a nossa proa, altiva na viagem que começa,
Mas oh coração! Coração! Coração!
Há gotas vivas de sangue vermelho
no branco ninho que inventámos, my Calengs!
Lá onde irrompe o nosso amor,
único, quente, vivo.
Oh Calengs, my Calengs! levanta-te e olha as borboletas.
Acorda, que se desfralda a bandeira de ti na gávea onde canto as mulheres.
Colhem cachos de uvas, e pisam o céu e a terra, e as nuvens férteis da mudança
para que as cantes e bebamos o seu néctar
aqui Calengs! Querida mulher!
onde a minha mão sobre o teu ventre
é um desejo de expedição,
único, quente, vivo.
My Calengs responde-me e formula um jogo, um enigma cúmplice
Uma energia celestial, num círculo de pedras e vontade e fé:
o navio larga amarras, porém só solta o pano quando o vento amainar.
Mas o mar espera, deseja-nos
exultam ondas, repicam sinos
e eu, com passos delicados
Passeio no convés onde tu vives, Calengs!
Única, quente, viva.”